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Resenha: Anarquismo - Pequena introdução às idéias libertárias, de Teotonio Simões

 

Autor: Teotonio Simões

Ano da edição: 1999

Páginas: 48

Gênero: Filosofia/Sociologia

 

Se eu pudesse definir o Anarquismo em uma única palavra, seria essa: liberdade! Durante toda minha vida como leitor, confesso que nenhum outro movimento político/filosófico/social me encantou tanto como os ideais pregados pelo anarquismo. Essa afirmação pode gerar confusão e dúvida por parte do leitor, pois a grande maioria das pessoas possuem uma ideia equivocada acerca dos movimentos anarquistas, e muito disso se deve a visão difundida na grande mídia que identifica o anarquismo como sendo um regime que promove a bagunça, baderna e desordem. Irei utilizar o breve conteúdo apresentado neste livro para desmitificar essa ideia e explorar um pouco alguns dos mais importantes princípios desse movimento.

Anarquismo é uma palavra que deriva do grego anarché (an = sem, arché = poder), ou seja, é um movimento que luta por uma sociedade em que ninguém exerça poder sobre ninguém. Ao contrário do capitalismo e do socialismo, o anarquismo não é considerado uma forma de governo, pois o movimento simplesmente prega pela abolição de tal entidade! O propósito do movimento é estabelecer uma sociedade livre e igualitária e, para isso, mudanças radicais precisariam ser implementadas, como a exclusão do Governo/Estado, e também da propriedade privada.

Para os anarquistas, o único limite à liberdade individual de uma pessoa é a liberdade do outro. Esta é, por assim dizer, a principal regra moral que baliza as condutas de um anarquista, pois respeitar a liberdade individual de alguém implica em aceitar suas peculiaridades e características como pessoa, além de, é claro, o respeito pela própria vida do indivíduo, pois a fraternidade e o cooperativismo são dois dos mais importantes princípios que marcam o movimento. 

Curiosamente, anarquistas também se opõem a eleições e coisas do gênero. A primeira vista, isso pode parecer contraditório, já que o movimento prega pelo estabelecimento da igualdade entre as pessoas, e uma eleição (democrática) é um bom exemplo de equidade entre grupos de diferentes pessoas. No entanto, segundo os anarquistas, eleições devem ser evitadas porque nada mais são do que uma forma de "perpetuar o Estado e o Poder". Segundo o autor, um termo que é bastante usado na literatura anarquista é o de "democracia direta", que seriam ações de caráter imediatista, como greves, boicotes, desobediência civil etc., e que precisam ser realizados de forma pacífica, pois os anarquistas de forma geral condenam a violência. A "bandeira preta" é um símbolo usado pelos anarquistas como um item representativo do movimento.

                       Fonte: FARJ (Federação Anarquista do Rio de Janeiro).

A ausência de símbolos e escrituras na bandeira seria uma forma de contrastar com as bandeiras das demais nações. Como o anarquismo preza pela igualdade entre os indivíduos, já é de se imaginar que o movimento também atue de forma a acabar com toda a delimitação geográfica e política que foi criada ao longo dos séculos, ou seja, a própria existência de nações é algo que deve ser superado.

No tocante ao capitalismo, o anarquismo diferencia-se sobejamente deste por defender o fim da propriedade privada, que, segundo boa parte dos anarquistas e socialistas, é um dos maiores males existentes e fruto de grande parte dos conflitos da humanidade. No entanto, os anarquistas também não simpatizam com os socialistas, pois sua ideologia, além de possuir todo um caráter autoritário, prega pela tomada do poder e pela manutenção do Estado pelo proletariado, e isso contraria profundamente os princípios anarquistas de igualdade e liberdade, pois o movimento almeja a abolição do governo e suas inúmeras formas de influência, e não sua conquista.

Creio que, de forma geral, devo ter conseguido passar a ideia principal do movimento anarquista até aqui, e, portanto, pretendo não prolongar o assunto, pois deixo que o leitor se inteire mais sobre o assunto com a leitura do livro. Como a obra é muito curta (48 páginas), é possível compreender rapidamente sobre o assunto, pois os capítulos estão organizados e escritos de forma extremamente simples. Boa leitura!

"...o estado em que uma classe domina e vive às custas de outra classe e chama isto de ordem está condenado a morrer e dar lugar a uma sociedade livre, associação voluntária, fraternidade universal."  (August Spies)

“Governo é para escravos; homens livres se governam.” (Albert Parsons)


Referências 

O livro pode ser acessado neste link:

 http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/anarquismo.html


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