Autor: Luiz Felipe Pondé
Ano da edição: 2015
Páginas: 230
Gênero: Filosofia
Acredito que esta resenha, assim como o conteúdo do livro, dispense grande parte da formalidade com a qual escrevo meus textos. Quem conhece o filósofo Luiz Felipe Pondé (figura abaixo) sabe a maneira como ele se expressa e escreve (geralmente com muitas pitadas de ironia e de forma um tanto leviana). Como é descrito pelo próprio autor, este livro não é uma obra sobre história da filosofia, mas sim um ensaio de filosofia do cotidiano. Mais especificamente, "é a confissão de um pecador irônico a respeito de uma mentira moral: o politicamente correto "(trecho retirado da contracapa).
Sendo assim, o objetivo do livro é mostrar, seguindo a argumentação do autor, que o politicamente correto (ou "praga PC", como é descrito pelo próprio autor) é uma falácia intelectual e moral. Ao longo dos 25 capítulos, Pondé usa situações cotidianas, acompanhadas do pensamento de um determinado autor sobre o assunto tratado, para invalidar o politicamente correto como forma de filosofia. O autor nos mostra que o politicamente correto é uma espécie de forma primitiva de defesa infantil, pois prega coisas que, de fato, pessoas comuns não conseguem exercer na vida diária, mas cujo discurso, banhado em hipocrisia, mascara as verdadeiras intenções dos seus proponentes.
A seguir, irei listar, para interesse do leitor, alguns breves trechos retirados de alguns capítulos. Também irei fazer alguns apontamentos sobre os tópicos tratados. No entanto, antes de prosseguir, gostaria de pontuar sobre o fato de que, apesar de alguns tópicos serem interessantes, considero que a argumentação do autor foi "fraca"; muitos dos trechos relatam apenas obviedades, e, como o leitor notará (quando fizer a leitura do livro), alguns desses trechos revelam alguns preconceitos do autor sobre alguns dos temas tratados, e isso fica evidente pois o livro é repleto de afirmações sem justificativa ou argumentação prévia. Contudo, acho que posso dar créditos ao autor, pois como o mesmo relata na apresentação do livro, essa obra é apenas uma "confissão de um pecador irônico".
Capítulo: O Politicamente Correto e o general Patton
No capítulo inicial, Pondé argumenta que a "praga PC" é originária de movimentos de esquerda dos EUA, mais especificamente da "nova esquerda", como chama o autor, que se diferencia da "velha esquerda" por considerar que a classe social que irá salvar o mundo seja todo tipo de grupo excluído ou minoritário, como mulheres, negros, gays, índios, etc., ao passo que a velha esquerda considera que o proletariado (os pobres) seriam os salvadores da pátria.
OBS: Aqui, fica claro o modo leviano e licencioso como o autor aborda essas questões. Apesar do modo ingênuo como o PC divulga essa temática, é evidente que se tratam de problemas concretos da sociedade, e a passividade do autor sugere que o mesmo não dá importância para esses movimentos que promovem a ascensão social de determinados grupos de minorias.
Capítulo: Aristocracia: os poucos melhores carregam o mundo nas costas
Neste segundo capítulo, Pondé comenta sobre o aristocracia e qual o seu significado filosófico, que, grosso modo, significa "governo dos virtuosos". Este capítulo tem como objetivo falar sobre um assunto óbvio, que é o fato de que algumas pessoas, naturalmente, são melhores do que as demais em determinadas tarefas, mas que o PC nega esse fato sob a alegação de que "todo mundo é igual". O autor comenta que a negação desse fato por parte do PC mostra apenas o seu caráter pueril e mentiroso, e, para justificar isso, Pondé recorre ao pensamento de Maquiavel, que argumenta que a natureza humana é mesquinha devido aos efeitos avassaladores da vida, e que a mesma é dominada pela acaso, isto é, não existe nenhuma providência divina que rege o comportamento da natureza, e isso faz com que o homem seja medroso, mentiroso, fraco, interesseiro etc.
Uma passagem interessante deste capítulo é a menção, feita pelo autor, do romance "A revolta de Atlas", escrito pela filósofa Ayn Rand, e que descreve um mundo dominado pela mentalidade socialista e coletivista. Pondé cita essa obra para enfatizar que, ao acabar com as "injustiças sociais", o homem também acaba com a produtividade, que é a fonte de toda a riqueza do mundo moderno.
OBS: Discordo categoricamente do autor com relação a essa última afirmação. É verdade que quanto mais pessoas fazem determinada tarefa (como um trabalho acadêmico), chega-se a uma situação onde se obtém "muito do mesmo" (trabalhos que falam sempre das mesmas coisas). No entanto, a inclusão de mais indivíduos nas esferas de poder público é essencial para o progresso do conhecimento e da civilização, pois quanto mais pessoas pensam e trabalham num problema, maiores são as chances de se chegar a uma solução, o que seria mais difícil se as coisas ficassem reservadas apenas para determinado grupo de pessoas.
Capítulo: A Democracia, sua sensibilidade e seus idiotas
Neste capítulo, Pondé argumenta do porque a democracia é o "menos pior" dos regimes sociais, pois ao contrário da maioria das outras formas de se organizar a sociedade, a democracia, segundo o autor, procura "institucionalizar as tensões da vida em grupo, distribuindo 'os poderes' de modo menos concentrado". No entanto, o autor argumenta que a democracia deve ser entendida como um regime em que se deve destacar a igualdade e liberdade como sendo os seus principais valores, que é um pouco diferente da concepção popular de democracia, que tende a imaginar o regime como sendo a "vontade popular" ou o "regime do povo". Segundo o autor, a concepção de democracia como sendo um "regime do povo" é prejudicial para o bem comum, pois o povo adere fácil a todas as formas de totalitarismo, e, como comenta o autor, "se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que você pedir".
Esse capítulo certamente é um dos mais relevantes, e é também o que apresenta uma argumentação mais consistente na defesa das premissas apresentadas pelo autor, e que são muito úteis para entendermos a nossa atual situação política e social. Como diria Nelson Rodrigues, "A pior característica da democracia é que ela deu aos idiotas a consciência de seu poder numérico". Em um regime democrático, as pessoas são estimuladas a falar e opinar sobre tudo, e isso tornou-se um sério problema com o advento das redes sociais e, consequentemente, com a divulgação de fake news. O autor sustenta que a afirmação de que "todos os homens são iguais" (que é um dos pilares da democracia) é válida somente perante a um tribunal, mas a interpretação incorreta dessa afirmação leva pessoas idiotas a assumir que são capazes de opinar sobre todo tipo de assunto.
Outro ponto interessante mencionado pelo autor é o fato de que, como menciona o próprio, "algo na natureza humana ama a mediocridade", e a democracia parece intensificar ainda mais esse fato, pois é incrível como candidatos (a cargos políticos) caricatos e com pouca seriedade conseguem facilmente cativar o público. Isso também pode ser visto nas escolhas pessoais sobre outros assuntos. Gosto de mencionar o fato ocorrido na copa do mundo de 2014, sediada aqui no Brasil. Várias seleções, principalmente a seleção espanhola, apresentaram um belíssimo futebol, mas foi justamente o Taiti, que era a seleção mais fraca e de menor expressão, que recebeu o maior apoio, consideração e aplausos por parte do público. Houve pouco reconhecimento pelas seleções que demonstraram o espetáculo que se espera de um jogo de futebol. O filósofo inglês Michael Oakeshott afirmava que os sujeitos fracassados sempre iriam perseguir os "verdadeiros" indivíduos, pois estes últimos resistem a massificação necessária para a aplicação da democracia moderna, como descreve o autor.
Acredito que a descrição desses capítulos tenha dado ao leitor uma sucinta descrição dos temas tratados e a forma como o autor os aborda. Como foi mencionado no início, Pondé já é conhecido por tratar de assuntos cotidianos usando a ironia e o sarcasmo como forma de abordar esses temas. No meu entendimento, o propósito desse livro vai além de ser uma mera crítica ao politicamente correto; com a leitura, fica evidente que o autor busca pôr em xeque algumas das convenções sociais criadas ao longo das últimas décadas, e isso fica claro quando, nos capítulos posteriores, o mesmo discorre sobre temas polêmicos e desconfortáveis como: "mulher gosta de dinheiro", "budismo light", "feminismo como histeria feminina", "romantismo para idiotas", hipocrisia etc.
Apesar de ser um livro com um conteúdo filosófico muito raso, considero que a leitura seja válida, pois analisar tais questões por diferentes perspectivas nos ajuda a entender a real dimensão do problema e, se possível, nos ajuda também a encontrar a melhor solução para tais problemas. Não irei seguir com uma análise para cada capítulo, pois creio que já dei spoiler sobre o livro. Para finalizar, deixo aqui a mensagem do autor escrita na contracapa do livro:
"Este não é um livro de história da filosofia, mas sim um ensaio de filosofia do cotidiano, mais especificamente um ensaio de ironia filosófica que dialoga com a filosofia e sua história, movido por uma intenção específica: ser desagradável para um tipo específico de pessoa (que, espero, seja você ou alguém que você conhece), ou, talvez, para um tipo de comportamento (que, espero, seja o seu ou o de algum amigo seu)".
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