Autor: Paul Strathern
Ano da edição:1997
Páginas: 69
Gênero: Filosofia
Ludwig Wittgenstein (1889-1951) foi um brilhante filósofo e lógico austríaco que é considerado por muitos como o "último filósofo". Ao ler toda sua obra, que essencialmente se resume a dois únicos livros, entendemos de imediato o porque da afirmação feita acima. Wittgenstein tentou, por assim dizer, pôr um "fim" a filosofia, mas não (obviamente!) porque ela a odiava, mas sim porque buscava saber qual era o princípio fundamental que lhe dava sustentação, e Wittgenstein identificou a linguagem como sendo o principal objeto de estudo da filosofia. Dizia: "Desconfiar da gramática é o primeiro requisito para filosofar". Se você é um entusiasta em filosofia ou até mesmo um leitor mais experiente, certamente deve estar surpreso com tal afirmação.
Curiosamente, a filosofia não foi a área no qual Wittgenstein estudara durante sua época de universidade, Seus primeiros trabalhos foram como engenheiro mecânico, com especial ênfase na construção e melhoramento de motores. De personalidade forte e caráter extravagante, Wittgenstein fazia o arquétipo pensador ermitão e esdrúxulo. Segundo ele próprio, teve apenas um único amigo, que fora o matemático David Pinsent, morto durante a primeira guerra mundial. A solidão e a extravagância são dois elementos que iriam acompanhá-lo pelo resto de sua vida.
Assim como Leibniz, Wittgenstein foi um pensador que chegou a desenvolver duas filosofias distintas. Ele começou a se interessar mais profundamente por filosofia quando leu o trabalho monumental de Bertrand Russell (1872-1970), que tentou mostrar que toda a matemática poderia ser derivada a partir da lógica. Essa crença passou a ser conhecida como "logicismo", e Russell era seu principal expoente. No entanto, Russell não obteve êxito em sua tentativa pois acabou esbarrando em um paradoxo. Wittgenstein rapidamente interessou-se pelo trabalho de Russell, e ambos iniciaram uma colaboração conjunta. Ambos possuíam visões conflitantes acerca do conhecimento em si, pois Wittgenstein, ao contrário de Russell, rejeitava o empirismo como forma de se obter conhecimento acerca da realidade; Wittgenstein acreditava que o conhecimento limitava-se a lógica.
Durante a primeira guerra mundial, Wittgenstein acabou sendo preso pelos italianos. Em seu período de confinamento, concluiu aquilo que é considerado uma das maiores obras do século, que é o seu Tratactus logico-philosophicus, obra no qual tentou elucidar os problemas filosóficos tendo por base o estudo aprofundado da linguagem, pois acreditava que a linguagem nos fornecia um retrato do mundo. Em suas palavras:" Os limites da linguagem são os limites do pensamento, porque tampouco este pode ser ilógico". Wittgenstein considera que, para se obter uma resposta, todo questionamento deve ser formulado em termos lógicos, ou seja, não podemos falar de forma significativa sobre alguma coisa se este não for tautológica ou verificável mediante a observação experimental. Por exemplo, uma pergunta como "Deus existe?", para Wittgenstein, não só é impossível de ser respondida, como também é impossível de ser formulada, simplesmente porque ultrapassa os limites da lógica, e, como já dito anteriormente, Wittgenstein considerava que os limites da lógica são os limites do conhecimento.
Mais tarde, Wittgenstein passaria a dar aulas na Universidade de Cambridge, no qual passou quase vinte anos lecionando aulas de filosofia para um seleto grupo de alunos. Devido a sua extravagância, quase nenhum aluno ousava contradizê-lo, mas o autor chama a atenção para o fato de que Alan Turing, um dos matemáticos mais brilhantes do século XX, fora uma das pouquíssimas pessoas a contradizer Wittgenstein. Em um debate acalorado, Wittgenstein argumentou que um sistema formal qualquer, tal como a matemática ou a lógica, poderia continuar sendo válido mesmo contendo alguma contradição em sua estrutura interna de regras e princípios. Turing discordava dessa afirmação, pois acreditava que, por exemplo, não faria sentido construir uma ponte baseando em uma matemática falha, correndo o risco, portanto, de levar a ponte ao chão. No entanto, Wittgenstein rejeitava peremptoriamente essa afirmação, pois argumentava dizendo que "considerações empíricas não desempenham nenhum papel na lógica".
Como dito anteriormente, Wittgenstein foi um dos poucos pensadores a desenvolver duas filosofias diferentes, e, em seus últimos anos, Wittgenstein desenvolveu uma filosofia que chegava a ser contrária a sua filosofia original, que ele então passou a renegar.
Sem dúvida alguma, Wittgenstein consagrou-se como um dos pensadores mais originais e versáteis que já existiu, e seu legado filosófico não será facilmente esquecido, pois esse homem de personalidade extravagante nos mostrou, como o próprio autor conta, que "a longa e gloriosa tradição da filosofia e suas questões profundas, que eram parte integral de nossa cultura, estão agora reduzidas à investigação linguística". Para encerrar esse breve relato sobre sua vida e obra, deixo aqui aquela que talvez seja a sua frase mais famosa:" Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar".
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